Treinador desembarcou em Turim como salvador da pátria. A lua de mel, contudo, terminou. Críticas já ecoam sobre seu trabalho, que sinaliza estagnação
Discursando no senado, o ditador Júlio César pronunciou uma frase que marcaria seu período à frente do Império Romano. “Vim, vi e venci”. Virou uma espécie de mantra em sua tentativa de desmantelar a república e instaurar uma monarquia.
Thiago Motta, que sem poderes de ditador comanda a Juventus, poderia recorrer ao lema. Porém, teria que adaptá-lo. Em seu caso, diria “vim, vi e empatei”. Afinal, à frente da Velha Senhora, tem estabelecido recordes de igualdade.
Na terça-feira, 14 de janeiro, em confronto com a Atalanta, a Juventus até deu a impressão de que poderia se sair melhor. Abriu o marcador no confronto pela vigésima jornada do Campeonato Italiano, a primeira do segundo turno. Entretanto, não resistiu à reação do clube de Bérgamo. Acabou tendo que se contentar com o 1 a 1.
Velha Senhora empatou 13 dos 20 jogos
Foi o décimo terceiro empate da Velha Senhora em 20 partidas. O índice de 65% de igualdades é o maior entre as ligas nacionais europeias. Na Série A, Bologna, Genoa e Empoli, que dividem a colocação do ranking dos empates, obtiveram o resultado em oito de suas partidas. Ou seja, 40% dos encontros. A média de empates do torneio é pouco inferior a 30%.
De empate e empate, a Juventus se mantém como única equipe invicta na temporada 2024/2025 do Campeonato Italiano. Mesmo assim, tem que amargar uma insatisfatória quinta posição. Fora até mesmo da zona de classificação para a próxima edição da Champions League.
Cenário que é fruto do baixo número de vitórias. Foram sete. Seis times alcançaram mais triunfos que a Juventus. A diferença na comparação com o Napoli, líder, está na casa de 13 pontos, tornando a briga pelo título inviável, ainda que restem 18 jornadas a serem realizadas.
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Em Bérgamo, a Juve ficou no 1 a 1 com a Atalanta. Foto: Site oficial da Juventus/Reprodução |
Técnico é demitido após dez jogos no primeiro trabalho
Os numerosos empates geraram críticas ao trabalho de Thiago Mota. Não foram as primeiras. Agora com 42 anos, o técnico criou uma estratégia inovadora. Porém, ao tentar implantá-la no Genoa, primeiro clube profissional que treinou, teve que lidar com um grande fracasso.
Em 2019, acabou demitido após apenas dez jogos (duas vitórias, três empates e cinco derrotas). Os resultados até eram compatíveis com a qualidade baixa do elenco do clube genovês. Porém, o caráter revolucionário de sua tática deixou os conservadores cartolas temerosos. Embora o termo não exista no jargão futebolístico italiano, Motta era visto como um Professor Pardal.
Ficou um ano e meio desempregado. Recebeu uma nova chance no Spezia, onde viu sua carreira deslanchar. Atingiu o objetivo máximo permitido. Evitou que o pequenino time caísse para a Série B do Campeonato Italiano. Uma pequena façanha diante das limitações econômicas do clube.
Carreira decolou com sucesso no Spezia
Foram 40 jogos (11 vitórias, seis empates e 23 derrotas). Resultado e desempenho capazes de torná-lo um atrativo para o mercado. Sonhando grande, recusou propostas de times pequenos e medianos. Então, a imprensa até cogitava uma possível ida para o Paris Saint-Germain, onde encerrou em 2018 sua carreira e jogador e começou a de treinador liderando a equipe sub-19.
A proposta, entretanto, não chegou. Deixando escapar o pássaro que tinha em mãos, Motta viu os passarinhos que almejava capturar saírem voando. Ficou desempregado, até que a porta do Bologna se abriu.
Ocupando a vaga aberta com a saída de Siniza Mihajlovic, que faleceria pouco depois, aos 53 anos, de câncer, fez sua carreira degolar. Na primeira temporada, deixou o time confortavelmente instalado no meio da tabela de classificação do Campeonato Italiano. Era o resultado esperado.
Vôo no Bologna o levou para a Juventus
Na segunda temporada, levou o Bologna a voar mais altos. Classificou o clube para a Champions League. Algo que não acontecia há seis décadas. Embora tivesse recebido proposta para seguir no cargo, optou por pedir demissão. As portas da Juventus estavam abertas.
No clube de Turim, ganhou carta-branca para implantar seu estilo de jogo. Promoveu uma significativa renovação no elenco. Isso fez com que os torcedores esperassem um saldo de qualidade na comparação com o insosso trabalho de Massimiliano Allegri, seu antecessor. No entanto, sete meses depois, parece apenas estar oferendo mais do mesmo. Um time defensivamente seguro, mas que carece de agressividade.
Técnico promove superpopulação do meio-campo
A base da estratégia de Thiago Motta é controlar o jogo com a superpopulação do meio-campo. Os laterais ficam um pouco mais adiante, atuando como meias. Na frente, apenas um atacante. Assim, em teoria, é formado um 2-7-1 capaz de impor grandes dificuldades aos avanços adversários.
No início do trabalho, o bloco de meio-campistas deu uma grande consistência defensiva à Velha Senhora. Dois oito primeiros jogos da edição 2024/2025 da Série A, em sete o time não teve sua rede balançada. No entanto, quando o bloco deveria avançar para melhorar a produção ofensiva, houve percalços.
Isso fez o treinador provocar mudanças na tentativa de dar mais agressividade ao time. Não chegou lá. A Juventus não apenas melhorou pouco no ataque, como deixou seu sistema defensivo desguarnecido. Algo muito semelhando com o Allegri.
Clube tem paciência com treinadores
A favor de Thiago Motta pesa o ainda curto tempo de trabalho. Está no cargo há 198 dias. Teve na derrota, por 2 a 1, de virada, para o Milan, na Supercopa da Itália, aquele que pode ser considerado seu ponto mais baixo. Contudo, em um clube que não se precipita na hora de demitir seus técnicos, terá a chance de fazer o time evoluir.
No Campeonato Italiano, a briga pelo título já não está mais em questão. Outras duas frentes de batalha, todavia, seguem abertas. O time está na zona de classificação para a segunda fase da Champions League, restando duas jornadas a serem completados no estágio inicial, e nas quartas de final da Copa da Itália.
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