Modalidade que 'explodiu' na pandemia, vive momento de caça às bruxas, com posições fechadas, gastos maiores para as empresas e empregados e diminuição da qualidade de vida
Redação do portal Terra. Início de 2000, final de século. Trabalho 100% presencial.
Prestar serviços a partir de casa, era uma anomalia. Quase uma lenda.
Comprado por uma telefônica espanhola, a empresa alugou um andar inteiro de um prédio de luxo na zona sul de São Paulo para acomodar seus empregados.
O custo? Fica por conta da sua imaginação.
Aproximadamente 200 pessoas se amontoavam em um espaço praticamente sem divisórias.
À noite, restavam uns gatos-pingados. Na editoria de esportes, havia uma pequena concentração de felinos. Especialmente às quartas-feiras, dia de rodada de futebol.
A especialidade da casa eram as transmissões ao vivo. Em texto e com algumas animações. Streaming, nem pensar.
Em casa ou na firma, quem quer ludibriar encontra caminhos
Isso significava um monte de televisões ligadas nos canais por assinatura para os jornalistas acompanharem os jogos e, lance a lance, informassem os usuários.
Porém, nem só de profissionais viviam as transmissões. Um diretor de outro setor tomava uma cadeira e ficava acompanhando os jogos.
Não se continha. Fazia comentários, dava palpites, celebrava. Manifestações que atrapalhavam o andamento dos trabalhos.
Isso acontecia semana sim, a outra também.
Dado o apito final, seguia para sua estação de trabalho e enviava um e-mail. Isso por volta das 23h45.
Assunto importante? Nada. Tudo o que desejava era mostrar aos seus colegas de trabalho que ficara na empresa até quase meia-noite.
Quem vê cartão de ponto não enxerga produtividade
Quem abria a correspondência eletrônica pela manhã, imaginava que era um profissional dedicado, que ficava até altas horas trabalhando.
Esse talvez fosse seu motivo para disparar uma mensagem inútil. Ou então produzia provas para um possível processo trabalhista pedindo horas extras no momento em que deixasse a empresa. Vai saber.
O fato é que, mesmo estando com o corpo nas instalações da empresa, passava horas sem fazer absolutamente nada produtivo.
Queda de custos vale para os dois lados
Ter um funcionário em casa sem produzir no sistema de trabalho remoto parece ser o maior temor dos empresários que dispararam uma grande campanha contra essa modalidade depois da explosão de postos de trabalho em casa durante a pandemia.
É possível que trabalhadores remotos fiquem em casa enrolando? Certamente. No entanto, isso pode ser feito também na modalidade presencial.
Basta mudar a tela do computador no momento em que o chefe se aproximar ou ficar de olhos fixos em sua estação de trabalho pensando na morte da bezerra e no churrasco a seguir.
Porém, isso não parece ser considerado pelas dezenas (talvez centenas ou milhares), por líderes de empresa que vêm reduzindo a cada dia os postos remotos.
Mesmo que isso custe mais caro, tanto para a companhia quanto para o trabalhador.
O temor de ser tapeado perdendo alguns dos trocados que paga para sua mão de obra, no entanto, reflete menos nos trabalhadores e mais nos chamados líderes.
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