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Elitização ameaça de extinção a classe média da bola

       

                  Principais ligas nacionais da Europa têm apresentado queda significativa do número de campeões diferentes nos últimos 75 anos  

Artigo de Paulo Matuck
19/05/2025

Entre 1951 e 1975, 66 diferentes times deram a volta olímpica nas ligas nacionais dos oito países que estão no topo da classificação da Uefa, entidade que reúne todas as federações do Velho Continente e Israel.

Nos últimos 25 anos, entre 2001 e 2025, esse número foi reduzido para 43, considerando a mesma base de torneios. Isso significa uma queda de quase 35% de ganhadores diferentes.

O motivo dessa redução drástica de times que conquistam título em sua ligas é fácil de ser detectado: a elitização do futebol. Os clubes que já tinham grande poder econômico, ficaram ainda mais ricos. 


Os clubes que pertencem ao bloco intermediário no índice de grana no cofre, também viram seus recursos crescerem. No entanto, como os grandes ganharam ainda mais, a diferença entre eles foi ampliada e vai dando sinais de que irá crescer ainda mais.

Assim, aqueles times que tinham seu habitat natural no meio de tabela de classificação, mas eventualmente faziam um trabalho capaz de superar os clubes de ponta viram aumentar - e muito - suas dificuldades na tentativa de repetir essa façanha.


Gráfico desenvolvido por inteligência artificial


Alemanha, Holanda e Inglaterra no pódio

Medalha de ouro 

O topo do pódio no processo de elitização do futebol vai para a Alemanha. Justamente o país mais democrático entre 1951/1975. Com folga. Nesse intervalo, teve 14 campeões diferentes. 

No primeiro quarto do século XXI, foram somente seis. Uma queda de 57,1% no índice de variedade dos campeões. O responsável por essa brutal redução foi o Bayern de Munique, que entre 2001 e 2025 faturou 18 troféus da Bundesliga.


Chegou, dessa maneira, aos 33 títulos do Campeonato Alemão. O segundo colocado nesse ranking é o Nuremberg, que até 1987 era o líder de conquistas. Foram nove voltas olímpicas. O time, que chegou a frequentar a terceira divisão, agora está na Bundesliga 2.

Medalha de prata

Bem próximo da Alemanha em redução de variedade na hora das conquistas está a Holanda. Entre 1951/1975, o país teve 11 times diferentes levando taças para as suas galerias. 

No período entre 2021/2025, esse número caiu para cinco. Redução de 54,6%.

Medalha de bronze

O pódio é completado pela Inglaterra. Assim como aconteceu com a Holanda, entre os anos 1951 e 1975, foram registrados 11 diferentes campeões. No primeiro quarto deste século, esse número despencou para seis. Redução de 45%.

Quase lá

A Itália não subiu ao pódio da elitização da pelota, mas chegou perto. Entre 1951 e 1975, sete diferentes times ergueram a taça. No começo do século XXI, esse número caiu para quatro. Decréscimo de 42,9%.

Na França, as aparências enganam

Com os milhões e milhões de euros no Paris Saint-Germain, que tem orçamento muito superior a qualquer outro concorrente local, a França passa por um processo de ter um Bayern de Munique para chamar de seu.

Afinal, nas últimas 13 edições da Ligue 1, o PSG venceu 11. Embora o país esteja indicando que seguirá os mesmos passos da Alemanha, está longe de chegar lá.

Entre 1951 e 1975, oito diferentes times faturaram o Campeonato Francês. Mesmo número dos últimos 25 anos. Assim, o torneio mantem-se estável no quesito variedade de campeões.

Polarizada, Espanha também mostra queda

O Campeonato Espanhol parece ser uma versão melhorada do Gauchão. Afinal, quando não dá Grêmio, o título fica nas mãos do Internacional. Ou, traduzindo para o local, ou dá Barcelona ou dá Real Madrid.

Isso não está muito longe da verdade. O país é o segundo entre os oito estudados com menos times campeões em cada um dos intervalos de tempo.

Na comparação entre 1951/1975 e 2001/2005 houve queda de 20%. Porém, isso é pouco significativo. Em números absolutos, de cinco times diferentes como campeões, houve quatro neste primeiro quarto de século.

Bélgica tem menor decréscimo

Seis dos oito países analisados deixaram claro o processo de elitização com a diminuição do número de clubes ganhando títulos ao longo dos últimos 75 anos. A Bélgica foi a que apresentou menor decréscimo. De 1951/1975 para 2001/2025, a redução foi de 14,3%


Portugal nada contra a corrente

Apenas um dos oito principais campeonatos nacionais da Europa mostrou o aumento do número de vencedores. Foi o de Portugal.

Porém, trata-se de um caso específico em um país que há muito tempo barra o crescimento dos médios e pequenos. Os títulos são reservados para o Benfica, Porto e Sporting.


Nesses últimos 75 anos, apenas uma vez um dos integrantes do Trio de Ferro não levou a taça para casa. O Boavista deu a volta olímpica ao final da temporada 2000/2001. Um acidente de percurso. 

O clube não conseguiu manter-se em padrão competitivo. Pelo contrário, foi descendo a ladeira. Na temporada atual, acabou rebaixado para a Liga Portugual 2.

Porém, na frieza da matemática, o número de campeões diferentes em Portugal subiu 33,3% no intervalo 1951/1975 para 2001/2025.

Copas viram salvação dos fracos e oprimidos

No sábado, 17 de maio, o Crystal Palace alcançou o primeiro título significativo em seus 120 anos de história. Superou o Manchester City, por 1 a 0, na final da Copa da Inglaterra. Uma façanha gigantesca.

Algo que parece ser reservado somente aos torneios no sistema de mata-mata ou em jogo único. Isso permite o surgimento dos azarões.

No sistema de pontos corridos, tal possibilidade é quase nula. O Leicester, vencedor do título da Premier League na 2015/2016 e uma exceção. Naturalmente, um ponto fora da curva.

Somando todas as ligas, a média de times diferentes sendo campeões nos últimos 75 anos foi de 54. Nas copas, esse índice sobe para 82. Ou seja, 51,9% a mais. É o poder da zebra entrando em campo.

Apesar disso, mesmo nas copas existe a tendência de elitização, ainda que de forma bem mais leve que nas ligas nacionais. De 1950/1975 para 1976/2000, a queda do número de campeões diferentes foi de 8,1%. Na comparação entre 1976/2000 e 2001/2025, houve estabilidade.  

Esses números não são definitivos. Afinal, ainda não foi disputada a Copa da França entre PSG e Reims. No entanto, é remota a possibilidade de o Reims, que terá que lutar na repescagem na tentativa de evitar a queda para Segunda Divisão, diante do atual campeão nacional e finalista da Champions League.

Faltam também as definições da Taça de Portugal e da Copa da Alemanha. Porém, o resultado dessas finais em nada afeta o índice. Em Portugal, qualquer que seja o campeão (Benfica x Sporting), não será novidade. Na Alemanha, acontece o contrário. Nem Arminia Bielefeld, nem Stuttgart ganharam título da DFB Pokal neste primeiro quarto de século.

Inglaterra e Alemanha puxam a queda

Dois dos países que registraram as mais altas queda do número de campeões nos últimos 75 anos também estão entre os que tiveram acentuado decréscimo nas copas nacionais.

Na Inglaterra, a redução do número de campeões no período de 1950/1975 comparado aos torneios entre 2001/2025 foi de 55,6%, mesmo com a vitória do Crystal Palace na FA Cup. 

Na Alemanha, a redução na variedade de campeões no mesmo intervalo foi de 33,3%, número também significativo.

Entretanto, houve casos de aumento considerável. Na Espanha, o índice de acréscimo foi de 100%. Isso mesmo. Se entre 1950 e 1975 houve seis diferentes campeões. No primeiro quarto deste século, o número saltou para 12, mesmo com o enriquecimento de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid.

Houve também crescimento na Bélgica. Contudo, um pouco menor, de 33,3%. Na França, assim como aconteceu nas ligas nacionais, houve estabilidade na diversidade. O mesmo aconteceu na Holanda.

Com o Bologna conquistando na semana passada o título da edição 2024/2025 da Copa da Itália, o país ficou em estabilidade absoluta. Os três períodos de 25 analisados apresentaram nove diferentes campeões.

Em Portugal houve queda, contudo, modesta, do número de campeões. Ela foi de 12,5% comparando-se o período entre 1951/75 e 2001/2025. 

E o Brasil, como é que fica?

Fazer uma comparação do Brasileirão com as maiores ligas nacionais da Europa não permite uma análise justa.

Afinal, os torneios do Velho Continente são disputado no sistema de pontos corridos, que, claramente, reduz a possibilidade de zebra.

No Brasileirão, tal método de disputa só foi implantado em 2003. Ou seja, está chegando neste ano ao seu 22º aniversário. Não é a única dificuldade para o levantamento.

Faltam torneios e sobram ressalvas para uma comparação

Em relação às ligas nacionais europeias, o Brasileirão ainda engatinha. Começou a ser disputado, de fato, desde 1971. Porém, em devido à politicagem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), alguns torneios anteriores foram considerados como se fossem Campeonato Brasileiro. 

O primeiro deles foi em 1937. Os demais, a partir de 1959, o que inviabiliza um comparação precisa. O melhor que se pode fazer é comparar os intervalos entre 1976/2000 e 2001/2024 (o torneio de 2025 segue em disputa). Mesmo assim, com ressalvas.

No primeiro período, foram registrados 14 campeões diferentes. Todos os torneios, todavia, contavam com fases classificatórias e jogos eliminatórios. Ou seja, o popular mata-mata.

No segundo período, que teve dois torneios no sistema de mata-mata e 22 no de pontos corridos, foram dez vencedores diferentes. Uma queda de 28,6%. Isso não permite dizer que há um processo de elitização como o registrado na Europa.

Afinal, houve uma diferença significativa na forma da disputa. Na prática, estamos comparando laranjas com bananas.

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